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sexta-feira, outubro 14, 2016

TEOLOGIA DO MILAGRE


Desde os princípios da humanidade, os fenômenos extraordinários, assombrosos ou maravilhosos causaram não apenas estupefação, mas também reflexão e pensamento religioso, seja na autenticidade, seja no imaginário. Mesmo nos dias atuais, eivado de racionalismo, é fácil perceber a influência de tais fenômenos. Curas, possessões, exorcismos, fantasmas, mau-olhado, encosto, casas mal-assombradas, trabalhos-magias, fenômenos carismáticos e tantos outros assuntos similares pertencem aos âmbitos religioso, ficcional, de superstição, de cinema, de processos psiquiátricos ou de sensacionalismo. Somente alguém distanciado das lides pastorais da Igreja desconsideraria sua relevância.

No âmbito judaico-cristão, os fenômenos extraordinários têm importância capital. A Revelação de Deus, que tem uma natureza pública e social, expressa-se por palavras, mas também através de fatos e mesmo através de fatos prodigiosos que chamamos milagres. Os milagres fazem parte da Revelação e como tal devem ser considerados.

Assim, convém esclarecer alguns aspectos gerais que facilitam a compreensão e o oportuno julgamento que muitas vezes é requerido ao teólogo-pastor. Negar a possibilidade de fenômenos extraordinários ou sobrenaturais seria puro ceticismo. Acreditar na veracidade e sobrenaturalidade de todos os pretensos casos seria colecionar o maravilhoso imprudentemente, expondo a Igreja ao risível. Nada dizer seria deixar livre curso ao imaginário. O presente artigo é uma sistematização a partir de uma importante bibliografia sobre o assunto(1), porém não pretende ser exaustivo. Além disso, pode-se encontrar ampla e diversa bibliografia relacionada(2).

1. O que é um milagre?

Milagre vem do latim miraculum. Na antigüidade clássica era um fato excepcional ou inexplicável, um fato maravilhoso ou extraordinário que suscita admiração, considerado como sinal e manifestação de uma vontade divina (3).

A partir do testemunho bíblico, percebe-se uma evolução na compreensão teológica do milagre. Os momentos centrais dessa compreensão foram a doutrina de santo Agostinho, de santo Tomás e a resposta apologética à crítica ilustrada. O magistério da Igreja ocupou-se do milagre, sobretudo a partir do Concílio Vaticano I.

a) Na Sagrada Escritura

As coordenadas da linguagem bíblica sobre o milagre são diversas. O termo traduziu a riqueza expressiva dos termos hebraicos ot, nifla’ot, nora’ot, môfét, e os termos gregos sêmeia, dýnamis, thaúmata, térata, parádoxa, etc.

Para o aspecto psicológico do milagre: no Antigo Testamento encontramos môfét, que significa prodígio, um fato insólito, que provoca assombro, admiração, surpresa. No Novo Testamento, encontramos thaumázo e téras, com o mesmo tipo de significado. No entanto, esse prodígio, aos olhos da Sagrada Escritura, não é um prodígio profano, mas sagrado.

Para o aspecto factual, ontológico: no Antigo Testamento, encontramos nifla’ôt, que são obras próprias de Deus e impossíveis para o homem (ações divinas), manifestações e efeitos do poder divino. É o aspecto ontológico do milagre: obra transcendente, impossível às criaturas, o que supõe uma intervenção especial da causalidade divina.

Para o aspecto intencional ou semiológico ou noético: no Novo Testamento, encontramossêmeion (l. signum), pois o milagre não é somente um prodígio que suscita o assombro, mas um sinal que Deus dirige aos homens. O milagre é portador de uma intenção divina que há de ser lida. Assim, ora Deus dá a entender que está com o seu enviado (p. ex., Moisés, Elias), ora que chegou o Reino (p. ex., nos “sinais” operados por Jesus).

Assim, para a Sagrada Escritura, o milagre é um prodígio religioso (aspecto psicológico), uma obra de poder (aspecto da causalidade), um sinal dirigido por Deus (aspecto da intencionalidade). Especialmente nos Evangelhos, é considerado como sinal, isto é, como “palavra plástica” de Deus que interpela o homem e o ajuda a proferir um ato de fé na mensagem transmitida por Cristo. Ou seja, os milagres são sinais divinos que não podem dar-se separados ou isolados da Revelação de Deus à qual pertencem e que expressam.

b) Em santo Agostinho

Nos Padres, o milagre é apresentado dentro do conjunto da Revelação e da fé, destacando seu caráter de sinal assim como a função que lhe é própria: orientar à Revelação.

Santo Agostinho foi o primeiro a estabelecer uma doutrina sistemática sobre o milagre, que influirá até ao século XII. Considera o milagre no horizonte da atividade criadora de Deus, que deixou sementes e virtualidades nas coisas (rationes seminales). No milagre importa mais o seu valor de sinal e não tanto o de transcendência física. Ele reconhece no milagre a intervenção divina, que não consiste, no entanto, em um ato de poder criador de Deus, mas em um desígnio de sua providência, mediante o qual desperta “a energia” que já havia depositado nas coisas. Os milagres seriam fenômenos que Deus provoca a partir das sementes secretas que se encontravam em germe desde a criação. Portanto, de certa forma, tudo, na natureza e no mundo, pode ser considerado como milagre, e os milagres especiais o são por seu caráter insólito e extraordinário. O fundamental neles não é o poder que mostram, mas que Deus pode utilizá-los de modo especial como sinais. Em De Trinitate, são propriamente milagres e sinais aqueles fatos que se apresentam a nossos sentidos para transmitir-nos algo divino (4). Em De utilitate credendi, milagre é tudo o que, sendo difícil e não-habitual, supera as esperanças e o poder do espectador assombrado (5). Portanto, um acento no psicológico: para Santo Agostinho, o importante no milagre é sua capacidade de elevar o homem à inteligência das realidades do mundo da graça. Não nega a intervenção direta de Deus, mas acima de tudo é um sinal devido ao seu caráter não-habitual ou extraordinário. Uma síntese do pensamento agostiniano sobre o milagre encontra-se no comentário sobre a multiplicação dos pães, em Tractatus in Ioannis Evangelium (6).



c) Em santo Anselmo e santo Tomás

Santo Anselmo distingue tríplice causalidade: a da natureza, a do homem, a de Deus. A natureza e o homem não podem fazer nada sem Deus, mas Deus pode atuar sem a natureza e sem o homem. O milagre tem que ver com a causalidade divina, independentemente de toda causa segunda; é um fato transcendente, que só pode atribuir-se a Deus. Portanto, um acento no ontológico.

Santo Tomás de Aquino ocupou-se do milagre em diversos lugares (7). O Aquinate retoca a definição de Santo Agostinho: Miraculum dicitur arduum et insolitum supra facultatem naturae et spem admirantis proveniens (8). Afirma que nos milagres podemos distinguir: primeiro, o que nele ocorre, quer dizer, algo que supera as forças da natureza, que é o que faz designar o milagre como ato de poder; em segundo lugar, a finalidade do milagre, isto é, a manifestação de um caráter sobrenatural; finalmente, seu caráter excepcional é que os faz designar como prodígios ou maravilhas (9).

Ainda, o doutor angélico distingue três gêneros de milagres, segundo a distância entre o fato devido à intervenção divina e as possibilidades das causas segundas: milagres em que Deus obra algo que a natureza nunca pode fazer; milagres em que Deus obra algo que a natureza pode realizar, mas em outra ordem; milagres em que Deus obra algo que também as criaturas fazem, mas o faz sem ater-se a determinadas exigências (10).

d) Na crítica ilustrada e na apologética

Depois de santo Tomás, acentuou-se o aspecto ontológico, sem preocupação demasiada com os outros aspectos. A própria idéia de santo Tomás sobre lei e natureza acabaram cedendo espaço às idéias racionalistas: a lei no contexto moderno. A natureza, pensam os deístas e ilustrados, está regida por leis necessárias e inalteráveis, postas por Deus. Postula-se, então, sobre bases filosóficas, uma visão determinista da natureza. Um determinismo que acabou adversário da possibilidade do milagre. Nessa visão da natureza, o milagre torna-se impossível; claro está, dentro da visão da crítica ilustrada onde a noção de Deus é a própria do deísmo ou do panteísmo, onde Deus é entendido como suprema razão que se manifesta na universalidade e necessidade, mas que se vê incapacitada de integrar a liberdade.

A resposta da apologética teológica insistiu sobretudo na possibilidade dos milagres e na “quebra” das leis naturais que os caracteriza e que somente Deus pode realizar. Ao centrar-se de maneira preponderante na transcendência física do milagre, a apologética deixou, de certo modo, que o caráter de sinal caísse no esquecimento. Ao ater-se somente à consideração do milagre/prodígio, concebido como um fato de ordem física que supera a força eficiente de todas as criaturas, sem apelar ao caráter intencional, reduz um problema religioso a um problema de pura causalidade eficiente. Pois o milagre em sua especificidade mais profunda é um sinal de uma ordem da graça dirigido por Deus.

e) Numa renovação na idéia de milagre


Uma fonte de renovação sobre o pensamento em torno ao milagre deve-se ao filósofo Maurice Blondel. Para ele, o milagre não é somente um prodígio físico que se refere exclusivamente aos sentidos, à ciência ou a filosofia, mas que é, ao mesmo tempo, um sinal dirigido a todo homem, um sinal de ordem espiritual e de caráter moral e religioso, um sinal que revela, não apenas a existência da causa primeira (do que os fatos naturais são suficientes para assegurar-nos), mas, sobretudo, a bondade de um Deus Pai que marca sua intervenção especial e que autentica desse modo um dom sobrenatural.

Assim, o milagre tem uma realidade física. Não é somente um fato extraordinário, percebido aos olhos da fé; é um testemunho escrito por Deus nos fatos. Se o milagre é verdadeiramente figurativo da bondade “anormal” de Deus, é preciso que possua uma realidade física. Os milagres são benefícios temporais verdadeiros e reais. O milagre é o análogo do sobrenatural. Situa-se no juízo mesmo de dois mundos: é sinal sensível das realidades invisíveis.

Mais o milagre tem uma função no tempo presente: um benefício real. Mas este benefício não é mais que uma prefiguração, uma antecipação fugidia da “terra prometida”. O milagre pertence ao mundo da Revelação divina. Por sua própria natureza, o homem não pode ser mais que servidor, amigo, “filho adotivo”: numa invenção sobre-humana e supradivina do amor. O milagre é a “teofania” da bondade misericordiosa e favorável que triunfa sobre a natureza e sobre o tempo no tempo e na natureza mesma. Os milagres são “atos falantes”, “palavras atuantes”. Se o milagre nos desconcerta e nos inquieta, é porque nos urge à conversão. Em sua relação com a doutrina da fé, o milagre é motivo de credibilidade. Mostra a bondade da mensagem em exercício.

Ainda: é impossível demonstrar cientificamente a transcendência de um fato. Mas o milagre não se situa nesse nível. Não fala a linguagem da ciência. O que se pode constatar é seu caráter extraordinário e perceber sua relação com a mensagem de Deus. O milagre é o que na ordem sensível se leva a cabo divinamente, com vistas ao sobrenatural. O milagre recorda-nos que o mundo é criado por Deus, que não existe mais que nEle e para Ele.

Portanto, para Blondel, o milagre é ao mesmo tempo um fato extraordinário que rompe bruscamente com o curso habitual das coisas e uma manifestação absolutamente particular da bondade de Deus Pai. Um sinal figurativo e confirmativo da mensagem cristã. Um sinal da “anormal” bondade de Deus. Um prodígio significante: aurora da nova criação.

Segundo R. Latourelle, milagre é um prodígio religioso, que expressa na ordem cósmica (o homem e o universo) uma intervenção especial e gratuita do Deus de poder e de amor, que dirige aos homens um sinal da presença ininterrupta de uma palavra de salvação no mundo.

Assim, em primeiro lugar, é um prodígio na ordem cósmica, um fenômeno insólito que altera o curso habitual das coisas e que causa surpresa e admiração. Em segundo lugar, é um prodígio religioso ou sagrado, ou seja, realizado num contexto religioso (não-fantasmagórico, fabuloso ou mítico). No contexto profano, o milagre não teria nenhum sentido e nenhuma razão de ser. Em terceiro lugar, é uma intervenção especial e gratuita do Deus de poder e de amor. Em quarto lugar, é um sinal divino, ou seja, é um prodígio com significado.

f) No magistério


Não há uma definição completa de milagre dada pelo Magistério da Igreja, ou seja, nunca o julgou necessário ou nunca a quis dar. O Concílio Vaticano I indica as características do milagre: são fatos divinos, isto é, têm Deus como autor, ao menos como causa principal, e são fatos distintos dos da Providência ordinária supondo uma intervenção especial de Deus; são sinais dirigidos por Deus aos homens para ajudar-nos a reconhecer que Deus falou à humanidade; causam assombro (11).

Pio X recolhe no juramento antimodernista o mesmo ensinamento do Vaticano I, insistindo na idéia de que os milagres são motivos de credibilidade acomodados a toda época(12). Pio XII refere-se também ao juízo certo de credibilidade, que se apóia nos milagres, acerca da origem divina da religião cristã (13).

No Concílio Vaticano II mencionam-se: “obras, sinais e milagres pelos quais Cristo revela e atesta a Revelação” (14); “os milagres de Jesus permitem comprovar que o Reino de Jesus já chegou à terra” (15); Cristo “apoiou e confirmou sua pregação com milagres para excitar e robustecer a fé dos ouvintes, mas não para exercer coação sobre eles” (16).

2. As condições de um milagre


A teologia afirma que o milagre é essencialmente um sinal ou palavra-feito de Deus, dotada de três características. Com efeito, o milagre é:
a) um fato real,
b) totalmente inexplicável pela ciência contemporânea ao mesmo,
c) realizado em autêntico contexto religioso, como sinal ou resposta de Deus a esse contexto.

Um fato real: porque requer-se que o episódio apresentado seja histórico, autêntico, real. Sabe-se quanto a imaginação é fértil em criar casos maravilhosos ou, ao menos, em aumentar as dimensões estranhas de determinado fato. Também o subconsciente, com suas aspirações íntimas, a alucinação, a sugestão, é responsável por muitos dos casos tidos como milagres pelo vulgo.

Um fato inexplicável pela ciência contemporânea ao mesmo: a ciência moderna tem elucidado numerosos fenômenos que, na época de sua ocorrência, foram tidos como milagres. Mas há fatos (p. ex., nos Evangelhos) que a ciência não explica, nem jamais explicará. Mas basta para ser “sinal” que a ciência contemporânea não o saiba explicar, nem conheça pista para explicá-lo futuramente.

Um fato realizado em autêntico contexto religioso: o milagre vem confirmar, da parte de Deus, uma atitude religiosa do homem. Ora, Deus só pode confirmar valores autênticos e verdadeiros. Por isso, mesmo quando a ciência considera inexplicável um fato, a Igreja permanece reticente. Ela examina as circunstâncias: terá sido resposta a uma prece humilde, confiante, inspirada na verdadeira fé? Terá servido para confirmar um servidor de Deus cuja doutrina ou cujo comportamento precisavam da chancela do próprio Deus? Será que o prodígio se verificou em contexto de magia, crendices, superstições, culto ao demônio?

Portanto, por sua própria índole, o milagre é um sinal, ou uma palavra “plástica” dirigida por Deus a determinada porção da humanidade, a fim de suscitar a fé dos homens ou tornar mais facilmente acreditável aquilo que o milagre assinala (a mensagem ou a pessoa). O milagre é uma das formas da comunicação reveladora de Deus. Forma parte das obras, através das quais, junto com as palavras, tem lugar a Revelação. Às obras concretamente compete manifestar e confirmar a doutrina (17). A função significativa que os milagres oferecem da Revelação realiza-se em vários níveis: são sinais do poder misericordioso de Deus (p. ex., Mt. 9,1 - 8); são sinais do Reino messiânico (p. ex. Mc. 1,35 - 39); são sinais da missão divina de seus enviados (p. ex., Ex. 4, 1; 14,31; 1 Re 18,37 - 39; Mt 11,21; Jo 3, 2; 7, 31; At 2,22; 10, 38); são sinais da glória de Cristo (p. ex., Mt. 11,27; Jo 1,14; 3, 35); são sinais de salvação (p. ex., Mc. 1,40 - 45; Lc 5, 10); são sinais escatológicos (p. ex., Cl. 1,18; Rm. 8,11).

3. Aspectos positivos e negativos a observar nos fenômenos


Podemos observar aspectos positivos e negativos durante a análise de um possível milagre. Critérios negativos (não são reconhecidos como milagres) são:

- os fenômenos ambivalentes: suscetíveis de dupla interpretação (natural ou transcendental). Certos acontecimentos podem verificar-se tanto em contexto religioso como em contexto puramente natural (p. ex., vozes interiores, êxtases, sonhos premonitórios, adivinhação do pensamento, visões, etc.). Muitas vezes será difícil distinguir;

- os fenômenos de experiência meramente individual: só uma determinada pessoa o vive e o conhece. São verdadeiros sinais para a pessoa, inclusive podem ser de Deus, mas não podem ser utilizados como mensagem destinada a mais pessoas. Tais sinais têm algo de incomunicável, pois implicam um tanto de experiência imediata e de intuição, que não se pode enquadrar em um esquema objetivo e válido para o grande público (p. ex., sinais da Divina Providência, sonhos, iluminações, etc.). Muitas vezes poder-se-ia apelar à mera coincidência e, em outros casos, à sugestão;

- as curas de moléstias funcionais. As curas de doenças são os mais comuns “milagres”. Devem-se distinguir-se doenças orgânicas das funcionais. As doenças orgânicas são as doenças nas quais há um ou mais órgãos afetados na sua integridade anatômica ou histológica, ou deformado e degenerescente, de modo a estar em vias de perecer. As doenças meramente funcionais são as doenças que não dependem de lesão física mas de perturbação do sistema nervoso. Existem perturbações histéricas pseudo-orgânicas que apresentam todos os sintomas de uma lesão orgânica, sem que esta exista realmente. Há quem mencione também as doenças psicossomáticas, nas quais um fundo nervoso está associado a lesões orgânicas. Em alguns casos, o elemento psíquico predomina e é diretamente responsável por irritações orgânicas (p. ex., dermatoses, moléstias cardíacas). Em outros casos, o fator orgânico predomina, mas o estado psíquico ou afetivo do paciente influi. Para “milagres” interessam as lesões orgânicas nitidamente diagnosticadas e tidas como incuráveis pela medicina contemporânea.

Existem também circunstâncias que desabonam um pretenso “milagre”: ambiente de irreverência a Deus, imoralidade, charlatanismo ou ilusionismo, cobiça de lucros materiais ou aceitação destes, ocasião de orgulho, vaidade ou sensualidade e culto da personalidade; ambientes de sensacionalismo e alarde, de fantasia e vã curiosidade, pois as obras de Deus costumam ser discretas; espírito de arrogância e de domínio com que alguém trata as coisas de Deus.

São critérios positivos:

- no caso de cura, em se tratando de doença orgânica grave, consistindo em alterações anatômicas significativas (modificação, perda ou hiper-produção de tecidos). Esta doença terá sido diagnosticada pelos métodos mais seguros e considerada totalmente incurável aos olhos da medicina contemporânea;

- no caso de cura, tenham sido ineficientes todos os meios terapêuticos devidamente aplicados;

- no caso de cura, verifique-se a restauração dos órgãos ou tecidos lesados em espaço de tempo tão breve que possa ser considerado instantâneo;

- no caso de cura, não se tenha registrado o prazo ordinariamente necessário para a recuperação gradual da função lesada (a pessoa retoma suas atividades com naturalidade em tempo extraordinariamente pequeno);

- seja a cura duradoura, capaz de ser comprovada por exames sucessivos, feitos a intervalos regulares durante longo espaço de tempo;

- autênticas atitudes de fé (oração e humildade); os efeitos do “milagre” são confirmação dos homens na verdade e no bem, repúdio ao pecado, conversões à reta fé, paz na alma, concórdia e caridade entre as pessoas, fidelidade ao dever de estado, obediência à autoridade eclesiástica, etc.

4. Etapas da verificação de milagres

Existem questões decisivas e sucessivas na análise de um possível milagre. Realmente sucedeu esse fato prodigioso? Não existe uma causa natural para o fato? O agente do milagre foi Deus? Qual a mensagem que Deus quis transmitir?

Daí, pode-se dizer que são quatro as etapas para verificação dos milagres:
a) verificar a autenticidade do fato;
b) verificar a possibilidade de explicação científica (de parte das ciências físicas, químicas, biológicas, médicas ou psicológicas);
c) verificar a explicação teológica (explicação sobrenatural);
d) verificar o significado (o motivo da permissão ou realização do específico fenômeno).

Na primeira etapa, da verificação da autenticidade do fato, o rigor da análise quer excluir possibilidade de mentira, de boato, de fraude, de falsas recordações ou deformações da memória, de ilusões ou alucinações, da mitomania dos histéricos ou da interpretação delirante dos paranóicos, etc.

Na segunda etapa, constatado o fato, procede-se à investigação sobre possível causa natural. Intervêm as diversas ciências teóricas, experimentais ou aplicadas, de acordo com a natureza do fenômeno: física, química, biologia, medicina, psiquiatria, engenharia, astronomia, etc.

Na terceira etapa, o processo teológico, apela-se à Revelação e à teologia. Tal etapa deve realizar-se apenas quando a anterior estiver decididamente esgotada em suas possibilidades. Ou seja, vai-se à causalidade sobrenatural, depois de eliminada a causalidade natural.

Na quarta etapa, do significado, quer-se descobrir o motivo da realização ou permissão, por parte de Deus, do específico fenômeno. Além da Revelação e da teologia, há que estar atento às circunstâncias e às repercussões pessoais, comunitárias ou até mundiais do fenômeno. Evidente, enquanto sinais de poder que permitem captar a presença e a ação salvífica de Deus, os milagres não têm todos o mesmo valor. Existe entre eles uma graduação. O decisivo no milagre é sua significância salvífica. Traduzindo: “O que Deus quis com isso?”

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prof. Dr. Pe. Manoel Augusto Santos - FATEO – PUCRS
"Publicado em Teocomunicação 142 (2003) 881 - 894"

(1) R. LATOURELLE, Milagros de Jesús y Teología del Milagro, Salamanca: Sígueme, 1990. Id., “Milagre”, in: R. LATOURELLE; R. FISICHELLA (dir.), Dicionário de Teologia Fundamental, Petrópolis-Aparecida: Vozes-Santuário, 1994, p. 624-640. W. MUNDLE; O. HOFIUS, “Milagro”, in L. COENEN; E. BEYREUTHER; H. BIETENHARD, Diccionario Teológico del Nuevo Testamento, v. III, p. 85-94. J. A. SAYÉS, Compendio de Teología Fundamental, Valencia: Edicep, 1998, p. 157s, 179-182, 272-276, 279-304. F. OCÁRIZ; A. BLANCO, Revelación, Fe y Credibilidad, Madrid: Palabra, 1998, p. 388-392, 555-572. J. METZ, “Milagro”, in: Sacramentum Mundi, Barcelona: Herder, 1984, v. 4, p. 595-599. E. MARTÍN NIETO, “Milagro”, in: F. RAMOS, Diccionario de Jesús de Nazaret, Burgos: Monte Carmelo, 2001, p. 825s. L. PIMENTEL CINTRA, Ciência e Milagres, São Paulo: Quadrante, 1994. R. BAUMANN, “Milagro”, in: Diccionario de Conceptos Teológicos, Barcelona: Herder, 1990, v. 2, p. 69-80. C. IZQUIERDO URBINA, Teología Fundamental, Pamplona: Eunsa, 1998, p. 391-407. M. SCHMAUS, A Fé da Igreja, Petrópolis: Vozes, 1982, v. 1, p. 93-97. N. ABBAGNANO, “Milagre”, in: Dicionário de Filosofia, 2ed., São Paulo: Mestre Jou, 1982, p. 641.

(2) P. ex.: G. AMORTH, Un esorcista racconta, Roma: Dehoniane, 1990. C. BALDUCCI, La possessione diabolica, 9ed., Roma: Mediterranee, 1988. M. ELIADE, Tratado de História das Religiões, Lisboa: Cosmos, 1990. E. FRIEDRICHS, Onde os espíritos baixam, São Paulo: Paulinas, 1965. P. A. GRAMAGLIA, Espiritismo; dimensões ocultas da realidade, São Paulo: Paulus, 1995. G. HUBER, O diabo, hoje, São Paulo: Quadrante, 1999. W. KASPER et alii, Diabo, demônios, possessão, São Paulo: Loyola, 1992. B. KLOPPENBURG, Espiritismo e fé, São Paulo: Quadrante, 1990. Id.,Espiritismo; orientação para os católicos, São Paulo: Loyola, 1986. Id., O Espiritismo no Brasil, Petrópolis: Vozes, 1960. E. LA PORTA, Estudo psicanalítico dos rituais afro-brasileiros, Rio de Janeiro, 1979. R. LAURENTIN, Il demonio mito o realtà?, Milano-Udine: Massimo-Segno, 1995. V. MARCOZZI, Fenômenos paranormais e dons místicos, São Paulo: Paulinas, 1993. A. SCOLA et alii,Sectas satánicas y fe cristiana, Madrid: Palabra, 1998. A. STILL, Nas fronteiras da ciência e da parapsicologia, São Paulo: IBRASA, 1965. B. WENISH, Satanismo, Petrópolis: Vozes, 1992.

(3) Cf. Ilíada, II, 234; Odisséia, III, 173; XII, 394.

(4) Cf. PL 42, 879.

(5) Cf. PL 42, 90: “Miraculum voco quidquid arduum aut insolitum supra spem vel facultatem mirantis apparet”.

(6) Cf. PL 35, 1592.

(7) Cf. sobretudo em De potentia q. 6; S. Th. I, q. 105, aa. 6-8.

(8) S. Th. I, q. 105, a. 7, ad. 2.

(9) Cf. S. Th. II-II, q. 178, a. 1, ad. 1: “In miraculis duo attendi possunt: unum quidem est id quod fit, quod quidem est aliquid excedens facultatem naturae, et secundum hoc miracula dicuntur virtutes; aliud est id propter quod miracula fiunt, scilicet ad manifestandum aliquid supernaturale, et secundum hoc communiter dicuntur signa; propter excellentiam autem dicuntur portenta vel prodigia, quasi procul aliquid ostendentia”.

(10) Cf. Contra Gentiles III, c. 100.

(11) Cf. DS 3009.

(12) Cf. DS 3539.

(13) Cf. DS 3876.

(14) DV 4.

(15) LG 5.

(16) Dignitatis humanae 11.

(17) Cf. DV 2.

segunda-feira, setembro 12, 2016

Uma demonologia bíblica


Um dos grandes mistérios da teologia judaico-cristã é a existência do mal, porque Deus permitiu o seu surgimento e existência, os detalhes sobre a sua origem. Dois fatos, porém, são claros: ele existe e ele será derrotado.

Textos como os de Ez. 28,12 – 15 e Lc.10,18 indicam que houve uma rebelião liderada por um anjo de luz (lúcifer), que, exercendo o seu livre arbítrio, optou pelo não-bem e pela ruptura de comunhão contra o Criador. Deus cria um lugar-estado (inferno) e para lá os lança (II Pe. 2,4).

O chefe desses anjos caídos é denominado de lúcifer ou satanás (hebraico = adversário), recebendo outros, como: belzebu, belial, o maligno, o príncipe deste mundo, diabo (grego = instigador, acusador).

Satanás lidera os demônios que:

1. São seres espirituais com personalidade e inteligência. Como súditos de satanás, inimigos de Deus e dos seres humanos (Mt.12,43 – 45);

2. São malignos, destrutivos e estão sob a autoridade de Satanás.

3. São numerosos (Mc. 5,9; Ap. 12,41).

Eles mantêm a forma angélica, com a natureza voltada para o mal. Têm inteligência e conhecimento, mas não podem conhecer os pensamentos íntimos das pessoas e nem obrigá-los a pecar.

Há autoridade e organização no mundo inferior (Mt. 25,41), mas por não ser Satanás onipresente, onipotente e onisciente (atributos exclusivos de Deus), ele age por delegação a seus inúmeros demônios (Mt. 8,28; Ap.16,1 – 14).

A teologia cristã tem percebido, a partir da Bíblia e da experiência, os seguintes ministérios demoníacos:

a) indução à desobediência a Deus e aos seus mandamentos;

b) propagação do erro e da falsa doutrina;

c) indução à mentira (“pai da mentira”) e à corrupção;

d) provocação de rebeldia nas pessoas que sofrem provações;

e) influência negativa sobre o corpo, os sentidos e a imaginação;

f) influência sobre os bens materiais (apego vs. perda);

g) realização de efeitos extraordinários, com aparência de milagres;

h) indução a sentimentos negativos, como o temor, a angústia e o ódio;

i) promoção da idolatria, da superstição, da necromancia, da magia, do sacrilégio e do culto satânico.

O mal esteve agindo no Pecado Original (queda), e exerce continuamente a sua obra perversa até o fim dos tempos, como tentador (Gn. 3,1 – 5), caluniador (Jó.1,9 – 11), causador de enfermidades (Jó. 2,7) e arquienganador (Mt. 4,6).

Ele mantém permanente luta contra Deus e o seu povo, procura desviar os fiéis de sua lealdade a Cristo (II Co. 11,3), induzindo-os a pecar e a viver segundo os sistemas elaborados pela natureza corrompida ou “carne” (I Jo. 5,19).

Os cristãos devem conhecer, pelo estudo da Bíblia e da teologia, a natureza e o ministério do mal, para se conscientizarem e se precaverem.

O apóstolo Paulo nos exorta a nos fortalecer em Deus e no seu poder, resistindo firmes pois “a nossa luta não é contra os seres humanos, mas contra os poderes e autoridades, contra os dominadores desse mundo de trevas, contra as forças espirituais do mal nas regiões celestiais” (Ef.6:12).

A disciplina devocional, com a leitura da Bíblia, a oração, os sacramentos, a busca de santidade, o desenvolvimento dos dons, a comunhão do Corpo, são antídotos contra o mal.

O ministério demoníaco contra as pessoas pode se dar de três maneiras:

a) tentação: apoio a opções negativas e atinge todos os seres humanos;

b) indução: (também chamada obsessão), uma ação mais íntima e contínua de “assessoria” à maldade, que atinge os descrentes e os crentes carnais;

c) possessão: quando os demônios se apoderam de corpos, controlando-os. Para a teologia evangélica clássica isso não pode acontecer a um convertido, cujo corpo é habitado pelo Espírito Santo.

Satanás e os demônios têm poder sobre os perdidos nesta vida e após a morte, que se destinam ao inferno.

Devemos estar advertidos para não cair em um dualismo de fundo zoroastrista. Satanás não é um ente contrário comparável a Deus.

Quem combate contra ele é o chefe dos anjos bons, e são os anjos bons que combatem os anjos maus.

Não devemos nem minimizar, nem maximizar o ministério do maligno]

Ele já foi derrotado na cruz, e o sangue de Cristo já tem poder, a obra da expiação já foi realizada, Cristo já ressuscitou e o Espírito Santo já foi enviado. O resgate já se deu, é oferecido pela Graça e recebido pela fé. O Senhor já reina sobre o universo, a História e a sua Igreja.

A perfeição da Ordem Criada (Éden) será revivida na Ordem Restaurada (Nova Jerusalém).

O mal terá um fim, quando satanás e os demônios forem todos lançados no lago do fogo (Mt. 25,41), também chamado de “segunda morte” (Ap. 20,14).

Devemos evitar cair na irresponsabilidade moral atribuindo aos demônios os males que são fruto de nossa opção, com natureza caída e pecadores. Não sejamos, portanto, ”caluniadores de satanás”.

O racionalismo e o liberalismo teológico haviam negado a existência de Satanás e dos demônios.

A teologia conservadora clássica (como fizera com os anjos bons), afirmava a sua existência, mas pouco elabora na prática do cotidiano dos fiéis. O pós-pentecostalismo e a teologia da “batalha espiritual” os vulgarizou e hipertrofiou o seu poder, além de, em uma atitude irracional, anti-científica e anti-bíblica, atribuir tudo aos mesmos. Nem indiferenças, nem irresponsabilidade, nem angústia opressiva.

Devemos rejeitar as representações pictóricas aterradoras (fruto da imaginação dos artistas), pois o mal não é incompetente em “marketing” ou em “relações públicas”, podendo aparentar beleza, bondade e prodígio.

O mal, que ele nos tenta, pode estar em nosso caráter, em nosso temperamento, e em nossa ética.

Devemos evitar o dualismo de fundo bramânico, entre “alma” (boa) e “corpo” (ruim). O ser humano foi criado integrado, caiu integrado e é restaurado integrado. “Carne” na Bíblia não é igual a Corpo (muito menos a sexualidade) mas a natureza caída (integrada). Lutero disse: “Jesus veio em carne e não pecou; Satanás não tem carne e peca todo o tempo”.

A Palavra e o Espírito vão nos libertando dos condicionamentos culturais e nos forjando como “novas criaturas”. A presente ordem, e o poder do mal, são transitórias. A nossa esperança é escatológica, “pois a antiga ordem já passou” (Ap. 21,4b).

Conclusões

Com o ocaso da modernidade vão-se os seus mitos: a bondade natural, o progresso, a razão (ciência) e as utopias globais. Volta a ambigüidade moral (e o pecado), os avanços e as decadências, a sensação de limitação nos empreendimentos e instituições humanas, e a redescoberta do além-razão no ser humano: o místico, o estético, o erótico, o lúdico, o intuitivo etc.

Há uma redescoberta do antes desvalorizado. A construção do futuro, porém, não se faz com um mero retorno ao passado (e aos seus males). O angélico e o demoníaco voltam como temas e realidades, vencendo-se, porém, os “sincretismos protestantes” e as “superstições evangélicas”, estranhas ao espírito e a proposta da Reforma.

Nem o reducionismo psicanalítico, nem o reducionismo dos “cultos de descarrego”.

A consciência do místico, do transcendente e do espiritual, não nos leva à alienação da História e das nossas responsabilidades como cidadãos e pessoas plenas.

Pois o bem e o mal, e suas potestades, se relacionam com os poderes políticos históricos, como procurou demonstrar Agostinho de Hipona em sua “Cidade de Deus”.

Fonte: Padre Felix

A doutrina da predestinação


A Igreja católica, seguindo santo Agostinho (A graça e O livre arbítrio 1,1; Sermão 169, 11,13), santo Tomás e tantos outros teólogos aceita a predestinação dos eleitos ao paraíso, mas também afirma a liberdade da vontade humana, distinguindo-se dessa forma do calvinismo. Predestinação ao inferno, no catolicismo, sempre envolverá o livre arbítrio do homem e os pecados previstos, sendo ele mesmo responsável pela sua própria condenação, e não Deus (rejeição da dupla predestinação).

Deus é soberano, em nossa visão, tanto quanto para o protestantismo (em particular o calvinismo), e como será amplamente demonstrado a seguir. Tudo o que se discute é a complexidade da contradição entre a graça e o livre arbítrio, que é uma das mais difíceis e misteriosas questões tanto para a teologia cristã quanto para a filosofia teísta. É claro, a concessão do livre arbítrio também está presente nas igrejas luteranas, anglicanas, metodistas, a maioria dos carismáticos, teologia batista não-denominacional, etc.

A Igreja Católica afirma a predestinação como dogma de fide (o maior nível de certeza teológica), e ao mesmo tempo afirma o livre arbítrio e a possibilidade da queda pelo abandono da fé. O material a seguir foi retirado do livro do teólogo alemão Ludwing Ott Fundamentos do dogma católico (Rockford, IL: TAN Books, 1974 (orig. 1952), pp. 242 - 245) e serve para que os protestantes busquem conhecer o que os católicos crêem sobre esta sempre misteriosa, controversa, complexa, grandiosa e abstrata questão teológica:

1. DEUS, PELA SUA ETERNA DETERMINAÇÃO, TEM PREDETERMINADO CERTOS HOMENS À BEM-AVENTURANÇA ETERNA (De fide)

[De fide = "de fé" – dogma absolutamente aceito por todos os católicos]

Esta doutrina está proposta pelo ordinário e geral ensinamento da Igreja como verdade revelada. As definições doutrinárias do Concílio de Trento pressupõem... A realidade da predestinação está claramente atestada em Rm. 8,29 e seguintes: ... cf. Mt. 25,34; Jo 10,27 e seguintes; At. 13,48; Ef. 1,4 e seguintes... A predestinação faz parte do plano divino da Eterna Providência.

2. BASES DA PREDESTINAÇÃO

a) O Problema

A dificuldade principal reside na questão se a decisão eterna da Deus da predestinação tem sido tomada com ou sem os méritos do homem (antes ou depois do praevisa merita)

Somente a predestinação incompleta é independente de qualquer mérito (ante praevida merita), porque a primeira graça não pode ser merecida, e a graça conseqüente, bem como os méritos adquiridos com esta graça e suas recompensas, dependem como os elos de uma corrente, da primeira graça...

b) Tentativa de solução

Os tomistas, os agostinianos, a maioria dos escotistas e também molinistas (Suarez, São Belarmino) ensinam uma predestinação absoluta (ad gloriam tantaum), portanto uma ante praevisa merita. De acordo com eles, Deus livremente determina por toda a eternidade, independente dos méritos da graça do homem, a chamar certos homens à bem-aventurança e conseqüentemente concede a eles graça que os guiará infalivelmente à correta execução do Decreto Divino (ordo intentionis). Deus primeiramente concede aos predestinados graças efetivas e felicidade eterna como uma retribuição pelos méritos que fluem de suas livres cooperações com a graça (ordo executionis). O ordo intentionis e o ordo executionis estão em relação inversão um com o outro (glória – graça; graça – glória).

A maioria dos molinistas, e também São Francisco de Sales (+1622) ensinam uma predestinação condicionada (ad gloriam tantum), que é, postand popter praevisa merita. De acordo com eles, Deus, por sua scientia media, vê antecipadamente qual homem irá reagir livremente às várias disposições da graça. À luz desse conhecimento Ele escolhe, como Lhe agrada, uma fixa e definida disposição da graça. Agora, por Sua scientia visionis, Ele conhece por antecipação e infalivelmente qual o uso que cada homem fará com a graça concedida a ele. Então Ele elege à bem-aventurança eterna aqueles que por virtude de seus méritos previstos cooperam perseverantemente com a graça, enquanto Ele determina à punição eterna do inferno aqueles que, por causa de seus méritos previstos, negam essa cooperação. A ordo intentionis e a ordo executionis coincidem (graça – glória; glória – graça).

As duas tentativas de explicação são permitidas eclesiasticamente. As provas das Escrituras não decidem por qual das duas. Os tomistas citam acima de todas as passagens a carta aos Romanos, na qual o fator divino da salvação é fortemente demonstrado em primeiro plano (Rm. 8,29; 9,11 - 13; 9,20 ss.)... Os molinistas invocam as passagens que atestam a universalidade da vontade Divina da salvação, especialmente 1 Tm. 2,4, assim como as sentenças pronunciadas pelo julgamento do mundo (Mt. 25,34 - 36), em que as obras de misericórdia são dadas como base para a aceitação no Reino de Deus. Mas que estas também são bases para a "preparação" ao Reino, isto é, para uma decisão eterna da predestinação, não pode ser definitivamente provada por eles.

Enquanto a tradição pré-agostiniana fica a favor da explicação molinista, santo Agostinho, pelo menos em suas últimas cartas, é mais a favor da explicação tomista. Esta enfatiza a causalidade universal de Deus enquanto a outra visão enfatiza a universalidade da salvação divina, a liberdade do homem e sua cooperação na salvação. As dificuldades que permanecem dos dois lados provam que a Predestinação, mesmo com uma razão iluminada pela fé, ainda é um mistério insondável (Rm. 11,33 ss.).

3. PROPRIEDADES DA PREDESTINAÇÃO

a) Imutabilidade

A decisão da Predestinação, como um ato de vontade de conhecimento divino, é uma essência divina imutável em sua essência. O número daqueles que estão registrados no livro da vida (Fl. 4,3; Ap. 17,8; cf. Lc. 10,20) está formalmente e materialmente fixado, isto é, Deus sabe e determina com certeza infalível antecipadamente como e quais os homens que serão salvos.

b) Incerteza

O concílio de Trento declarou-se contra o calvinismo, que a certeza do conhecimento da predestinação de alguém somente pode ser obtida por revelação especial... a Sagrada Escritura ordena o homem a trabalhar por sua salvação com temor e tremor (Fl. 2,12). O que acha que está no alto cuide que não caia (1 Cor 10,12). Apesar da incerteza, existem alguns sinais da predestinação que indicam uma grande possibilidade da predestinação de alguém, que podem ser a prática perseverante das virtudes recomendadas nas oito beatitudes, recepção freqüente da sagrada comunhão, amor ao próximo, amor a Cristo e à Igreja...

(Para provas contra a certeza absoluta da salvação coloco algumas passagens: 1 Cor 9,27, 10,12, Gal. 5,1,4, Fl. 3,11 - 14, 1 Tm. 4,1; 5,15; Hb. 3,12 - 14; 6,4 - 6; 2 Pd. 2,15,20 - 21. Estas são as mais contundentes, mas existem outras: 1 Sm. 11,6; 18,11 - 12; Ez. 18,24; 33,12 - 13,18, Gal 4,9; Col 1,23; Hb. 6,11 - 12; 10,23.26.29.36.39; 12,15; Ap. 2,4 - 5).

(Muitos protestantes declaram ter uma absoluta "certeza", mas quando tudo é dito e feito, tanto bíblica quanto epistemologicamente, eles simplesmente não conseguem mais chegar a esta certeza, e não estarão mais "certos" do que um católico ou um ortodoxo. Tais declarações são simplesmente improváveis. Em outras palavras, a "segurança" protestante envolve o seguinte argumento em um círculo vicioso: para possuir uma segurança da salvação você deve acreditar que está salvo. Isto tem sido chamado de "fé de confiança" e é totalmente subjetiva, da mesma forma que a "chama no seio" dos mórmons. Martinho Lutero mesmo ilustra a incoerência desta inovação:

Devemos dia após dia nos empenhar para uma maior certeza... Todos devem, portanto se acostumarem firmemente com a idéia de que está em estado de graça... Se encontrar dúvida, então deixe exercitar a fé; deve derrubar suas dúvidas e adquirir certeza... O problema da justificação é difícil e delicada, não deveras por ela mesma, pois por ela mesma há grande certeza, mas em relação a nós; isto eu tenho freqüentemente experimentado (In Hartmann Grisar, Luther, London: 1917, v.4, pp.437-443)

4. CONCEITO E REALIDADE DA REPROVAÇÃO

Por Reprovação se entende a resolução eterna de Deus em excluir certas criaturas racionais do gozo eterno. Enquanto Deus, por Sua graça, positivamente coopera nos méritos sobrenaturais, que levam à beatificação, Ele meramente permite os pecados, que levam à condenação eterna.

Em relação ao assunto da decisão da reprovação, deve-se fazer uma distinção entre a reprovação positiva e a negativa, de acordo com a decisão divina de reprovação como uma condenação objetiva ao inferno ou punição, ou exclusão da visão beatífica. Em relação à razão da reprovação a distinção é entre condicional ou incondicional, à medida que a decisão divina de reprovação é dependente ou independente da previsão dos futuros deméritos.

5 - DEUS, POR DECISÃO DE SUA VONTADE, PREDESTINA CERTOS HOMENS, EM CONTA DE SEUS PECADOS PREVISTOS, À REJEIÇÃO ETERNA (De Fide).


A realidade da reprovação não está formalmente definida, mas é um ensinamento geral da Igreja.

6. A REPROVAÇÃO POSITIVA


A doutrina herética do predestinacionismo em suas várias formas (Lucidus no século 5, Gottschalk no século 9, Wycliff, Huss e especialmente João Calvino) ensina uma predeterminação positiva para o pecado, e uma incondicional predestinação à punição eterna, isto é, sem a consideração dos futuros deméritos. Isto foi rejeitado como falsa doutrina nos Sínodos particulares de Orange, Quiercy e Valência e pelo Concílio de Trento. Reprovação Positiva Incondicional leva a uma negação da universalidade do divino desejo de salvação, e da redenção, e contradiz a justiça e santidade de Deus assim como a liberdade do homem.

De acordo com o ensinamento da Igreja, existe uma Reprovação Positiva Condicional, isto é, ocorre levando em consideração os futuros deméritos (post et propter praevisa demerita). A natureza condicional da reprovação positiva foi demandada pela generalidade da decisão divina de Salvação. Isto exclui o desejo antecipado de Deus em condenar o homem (cf. 1 Tm. 2,4; Ez. 33,11; 1 Pd. 3,9).

7. A REPROVAÇÃO NEGATIVA


Sobre a questão da reprovação, a visão tomista favorece não uma absoluta, mas somente uma reprovação negativa. Isto é concebido pela maioria dos tomistas como uma não-eleição à felicidade eterna (non-electio), juntamente com a decisão divina em permitir que algumas criaturas racionais caiam no pecado, e por isso pelas suas próprias culpas percam a salvação eterna. Em contraste com a Reprovação Positiva absoluta da predestinação, os tomistas insistem na universalidade da vontade divina da salvação e redenção, na alocação das graças suficientes para o reprovado e na liberdade do livre-arbítrio do homem. Na prática, a reprovação negativa incondicional de alguns tomistas envolve o mesmo resultado da reprovação incondicional positiva dos predestinacionistas hereges, pois fora o céu e o inferno não há outro estado final.

Da mesma forma que a decisão da predestinação, a decisão da reprovação é imutável, mas, sem uma revelação especial, sua incidência é desconhecida do homem.

Ludwing Ott
Livro: Fundamentals of Catholic Dogma - tradução: Rondinelly Ribeiro

sexta-feira, agosto 26, 2016

EVANGELHO: Um camelo pode passar no fundo de uma agulha? Mc 10,17-27



EVANGELHO – Mc 10,17-27

17 Tendo Jesus saído para se pôr a caminho, veio alguém correndo e, dobrando os joelhos diante dele, suplicou-lhe: “Bom Mestre, que farei para alcançara vida eterna?”. 18 Jesus disse-lhe: “Por que me chamas bom? Só Deus é bom. 19 Conheces os mandamentos: não mates; não cometas adultério; não furtes; não digas falso testemunho; não cometas fraudes; honra pai e mãe”. 20 Ele respondeu a Jesus: “Mestre, tudo isso tenho observado desde a minha mocidade”. 21 Jesus fixou nele o olhar, amou-o e disse-lhe: “Uma só coisa te falta; vai, vende tudo o que tens e dá aos pobres e terás um tesouro no céu. Depois, vem e segue-me”. 22 Ele entristeceu-se com essas palavras e se foi todo abatido, porque possuía muitos bens. 23 E, olhando Jesus ao redor, disse a seus discípulos: “Quão difícil é um rico entrar no Reino de Deus!”. 24 Os discípulos ficaram assombrados com suas palavras. Mas Jesus replicou: “Filhinhos, quão difícil é entrarem no Reino de Deus os que põem a sua confiança nas riquezas! 25 É mais fácil passar o camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar o rico no Reino de Deus”. 26 Eles ainda mais se admiravam, dizendo a si próprios: “Quem pode então salvar-se?”. 27 Olhando Jesus para eles, disse: “Aos homens, isso é impossível, mas não a Deus; pois a Deus tudo é possível”. 

É interessante vermos que estamos diante de um dos discursos duros de Jesus, que assusta aqueles que olham pela primeira vez o Evangelho.

Muito já se discutiu entre os estudiosos sobre essa passagem, e já foram formuladas muitas teorias para amenizar a dureza de Jesus para com os ricos, mas o que queremos demonstrar aqui é que o Mestre não estava abrandando nada para os que possuíam muito, mas estava os repreendendo duramente.

Uma das conclusões a qual alguns estudiosos chegaram era a de que camelo, em grego, significava uma corda grossa com que se amarravam os barcos. E que agulha seria uma pequena porta situada num dos grandes portões da muralha de Jerusalém. Ou seja, ambas as interpretações deixam mais “mansa” a afirmação de Jesus. Mas seria isso mesmo?

Em grego, a palavra kámelos (κάμηλος) significa exatamente o nosso camelo, palavra traduzida do latim camelus. Em Mc 10, 25 e em Lc 18, 25 a palavra usada é kámelon (κάμηλον), claramente para se referir ao animal. Com certeza, esse nome grego provém da palavra hebraica gamal (למג), que é usada para identificar aquele mamífero ungulado (Camelus Bactrianus), encontrado nos nossos zoológicos brasileiros.


"...para os ricos, a dificuldade é ainda maior para se alcançar a plenitude da vida, pois para um camelo atravessar o buraquinho da agulha é necessário que a 'vaca tussa', primeiramente!"

Já o termo grego para agulha é raphís (ραφίς), aquele objeto usado para costurar – claro que era bem maior naquela época. Lucas usa o termo belónes (βελόνης), que significa agulha cirúrgica, usada para cuidar da saúde das pessoas.

Seja como for, não podemos ignorar que as palavras nos dizem muitas coisas da comparação de Jesus. Ele queria deixar bem claro que, para os ricos, a dificuldade é ainda maior para se alcançar a plenitude da vida, pois para um camelo atravessar o buraquinho da agulha é necessário que a “vaca tussa”, primeiramente!

Mas devemos entender, hoje, que Jesus se referia às dificuldades apresentadas a uma pessoa que acumulava bens em excesso. Aquele homem rico era bom e queria ajudar as pessoas, mas não era capaz de reconhecer a sua finitude e a futilidade de seus bens. Nos nossos dias, essa passagem pode ser estendida a todos aqueles que não conseguem se livrar de suas maldades, sejam ricos ou pobres.

Não devemos lutar contra os ricos de nossa sociedade, mas temos de cobrar daqueles que se enriquecem com o dinheiro público, para que consigamos tirar os pobres e os miseráveis dessa condição social injusta! Muitos pobres também são egoístas e avarentos, por isso não devemos ser cruéis com ninguém. O que temos de fazer é “vender” todo o nosso apego e seguir Jesus radicalmente. E para isso, todos são convidados – ricos e pobres!

sexta-feira, agosto 19, 2016

A Fuga para o Egito



“Levanta-te, pega o Menino e Sua mãe e foge para o Egito!” (Mt 2, 13).

Um véu cintilante de estrelas cobria o céu azul-escuro da encantadora Belém. “Belém de Judá... de ti sairá o chefe que governará Israel, meu povo” (Mig 5, 2).

Os Magos partiram, por outro caminho, conforme o aviso que tiveram em sonho! Herodes, furioso, persegue o Menino em Belém e arredores, e determina a execução de todos os meninos de dois anos para baixo.

“É o massacre dos inocentes”. Os primeiros a derramarem o sangue em nome de Jesus!
José, Maria e o Pequeno Jesus estão a caminho! Imaginemos o susto que o aviso do anjo lhes causou. Estavam longe de casa, por certo, o que traziam na bagagem, nada mais era do que lhes permitia a pobreza, e os bens, que a Providência Divina lhes proporcionou pelas mãos dos Magos.
José transforma o lombo do fiel burrinho num trono confortável e aquecido!
Ó feliz burrinho! A passos lentos transportavas, orgulhoso, a Rainha escolhida com o Pequeno Rei em seus braços.
O caminhar era silencioso, Maria pensava nas palavras do Anjo Gabriel. Lembrava das profecias do velho Simeão no Templo. “Uma espada de dor transpassará a tua alma”. 

Tudo era guardado em sua coração! A dor transformava-se em alegria quando contemplava o rosto sereno do seu menino, nascido da suas entranhas e que também era seu Deus!

Passo a passo, o jovem e justo carpinteiro José, pensava no futuro; pensava na nova vida no Egito e em seu coração refletia sobre um outro José, o filho de Jacó, que foi para o Egito como escravo, tornou-se o conselheiro real e aquele que salvou a descendência do povo de Israel, da miséria. E lembrou-se do grande libertador do povo de Israel, Moisés do Egito!

Uma viagem penosa e perigosa, a escuridão da noite através de desertos e florestas, animais bravios e salteadores! Os sobressaltos que padeceu a Sagrada Família, durante o trajeto, dariam subsídios suficientes para uma comovente novela de aventuras.

São Pedro Crisólogo escreveu, tão belamente, sobre a necessidade da fuga e justificou assim: “Que Cristo fugisse, foi mistério, não temor; foi virtude divina, não fraqueza humana; não fugiu por causa da morte do Autor da Vida, mas por causa da Vida do Mundo. Pois tendo vindo para morrer, fugiria a morte?...”.

Uma antiga lenda nos diz que, à passagem da Sagrada Família rumo ao Egito, as palmeiras inclinavam-se, as fontes brotavam e os corações eram transformados por uma presença desconhecida!

A tradição nos mostra a cidade de Heliópolis, centro do culto ao Sol, como lugar escolhido pela Sagrada Família para residirem. Lá já viviam muitos Hebreus, e lá também existia um templo ao Deus verdadeiro!

Lá permaneceu a Sagrada Família até a morte de Herodes! Era o quarto ou quinto ano da era Cristã. Mais uma vez a palavra do Senhor se cumpria! “Eu chamei do Egito o Meu Filho” (Os 11, 1).

O Verbo de Deus encarnado, a Palavra de Deus, ou o Próprio Evangelho vivo é apresentado aos pagãos. O Egito mais uma vez é lugar de exílio e testemunha do plano Salvador de Deus!

“A Sagrada Família nos ensina e aconselha a praticar o apostolado sempre e em todos os lugares, e até em circunstâncias desfavoráveis da vida, às vezes contra o nosso próprio gosto, somos obrigados a partir!”.

O homem põe e Deus dispõe.
Herodes persegue e Deus prossegue!

Paz e Bem!
Marcio Antônio Reiser O.F.S.

segunda-feira, agosto 15, 2016

Sodoma e Gomorra, um reflexo do seculo XXI


No relato de Sodoma e Gomorra, disse Deus a Abrão: " Abrão, irei destruir as cidades de Sodoma e Gomorra com fogo e enxofre descido do céu"... Abrão questionou a Deus dizendo: "Mas Senhor, você vai destruir as cidades, e se ali tiverem 50 homens justos? “.. E Deus diz: Abrão, se ali tiverem 50 justos, eu não vou destruir Sodoma e Gomorra... Abrão porem insistiu na questão, depois disse 40, 30, 20, até ao ponto de perguntar: E se tiverem só 10 justos em Sodoma e Gomorra? Deus disse: Se ali tiverem esses 10 justos, eu não destruirei Sodoma e Gomorra. Abrão pensou, e ele viu que ali não tinham justos.

Irmãos e Irmãs, parece um tanto assustador ler esse relato dos povos antigos, isso nos leva a ter uma ideia de um Deus destruidor, mas não devemos fixar isso em nossa mente, pois Deus não destrói nada, somos nós mesmos quem destruímos as coisas.

Essa condição que Deus deu à Abraão continua a ressoar em nossos ouvidos quando o Verbo Encarnado nos diz que por causa de nossas ações (justas) salvaremos a nossa família. Busquemos sempre a reta justiça, sejamos aqueles que mesmo nas nossas fragilidades, nos mantemos firmes para sermos justos e verdadeiros pregadores da verdade, do reino de Deus, para que sobre nós não caiam os pecados de Sodoma e Gomorra. 


O mundo tem a cada dia entrado em total perda da verdade, vive uma escarces da santidade, não sabe mais amar a Deus em vez das coisas terrenas, "queremos" ser nossos próprios deuses, e se o mundo vai assim, nem precisamos dizer o que vai acontecer quando ele se encontrar tão contaminado quanto se encontrava Sodoma e Gomorra. E se esse dia chegar e não tiverem justos na terra, será que muitas famílias serão salvas ou todos irão perecer? Vale lembrar que, mesmo que no dia final estejam justos na terra, isso não significa que todos serão levados a eternidade com Deus, pois a certos tipos de pecados que deverão ser prestados contas.


Por Gilson Azevedo 
© Livre para copia e difusão na integra com menção do autor 

quinta-feira, agosto 11, 2016

A existência do mal no mundo não contradiz a existência de Deus?




– “Como se explica o mal no mundo? Parece incompatível com a existência de Deus” (Ariel – Rio de Janeiro-RJ).

A questão é das mais disputadas de todos os tempos. Contudo, ela só admite uma solução, que vamos procurar expor refletindo serenamente.

Antes de perscrutarmos a origem e a razão de ser do mal, faz-se mister definir o que é o mal.

1. O que é o mal?

1) O mal, longe de ser uma entidade positiva é um não-ser; não constitui uma afirmação, mas uma negação.

Com efeito, não há, nem pode haver, substância cuja natureza seja por si essencialmente má; esta seria algo de estranho ou absurdo no mundo: não poderia agir, porquanto nenhum ser age senão em virtude de uma perfeição que ele possui e atua. A serpente, o escorpião, a bomba atômica… só produzem sua ação nociva ou má porque neles há uma entidade positiva que o naturalista ou o físico-químico admiram profundamente. O mal, portanto, é uma negação ou ausência de ser.

2) Não é, porém, qualquer ausência de ser; é apenas a ausência do ser devido ou do ser pertencente à natureza de tal indivíduo (caso contrário, todo indivíduo seria mau por não possuir toda e qualquer das perfeições espalhadas pelo mundo). Na prática, ninguém diz que a ausência de asas no homem é um mal ou uma desgraça, mas todos reconhecem que a falta de olhos ou a cegueira no mesmo é um infortúnio, pois o homem não foi feito para ter asas e, sim, para ter olhos; a criancinha, pelo simples fato de não falar, não está afetada de um mal, ao passo que o adulto na mesma situação padece autêntico mal.

Em outros termos: o mal é a falta de conformidade do sujeito com o respectivo arquétipo ou exemplar. Essa falta de conformidade pode-se verificar na ordem física (tem-se então um corpo doente ou mutilado) ou na ordem moral (tem-se então uma ação alheia ao Fim último devido ou um pecado).

Resumindo esquematicamente:

Todo SER por si é um BEM.

O NÃO SER é:

– ou mera negação, ausência de entidade não devida: p. ex., a falta de asas no homem não é nem Bem nem Mal.

– ou carência, privação de entidade devida à natureza.

– na ordem física: p. ex., falta de vista no homem -> Mal Físico.

– na ordem moral: p. ex., falta de conformidade do ato humano a Deus, Fim Ùltimo -> Mal Moral.

3) Por conseguinte, o mal supõe sempre um bem, ao qual ele sobrevém; só se encontra onde há um valor real, e tem proporções tanto mais vultuosas quando maior é o bem no qual esteja encravado; basta lembrar a hediondez da perversão de um gênio, da corrupção de um santo. É o fato de que o mal está sempre aninhado no bem que lhe dá a aparência de entidade positiva.

A experiência comprova que o mal nunca pode ser isolado. Não se encontra o mal como tal (a cegueira ou a surdez subsistentes em si mesmas), mas alguém ou alguma coisa boa em que existe a lacuna, o mal (o olho privado de visão, o aparelho auditivo carente de audição). Não há quem veja as trevas ou ouça o silêncio; estes só são apreendidos se se apreenderam previamente os respectivos contrários (luz e ruído).

Disto se segue que o mal nunca poderá, nem no indivíduo nem na sociedade, ser tão vasto que absorva e destrua todo o bem, pois em tal caso o mal extinguiria o suporte da sua existência e aniquilaria a si mesmo. O mal só pode existir respeitando em certo grau o bem; jamais conseguirá triunfar totalmente sobre o bem; para ter realidade, ele há de ser uma negação menor dentro de uma afirmação maior (concretamente, isto quer dizer que os autênticos motivos de tristeza, como são as calamidades físicas para o homem, nunca são tão ponderosos que sobrepujem os autênticos motivos de alegria; no plano moral, nunca o pecado marcará decisivamente o curso da história…).

4) Onde há ser limitado, mesclado de não-ser, há possibilidade de passar do ser para o não-ser, da vida para a morte, da integridade para a mutilação. Somente naquele que é o Ser simplesmente dito, que tem em si mesmo a justificação do seu ser, é que não pode haver deficiência ou mal; isto se dá apenas em Deus.

Na raiz de cada criatura, ao contrário, há um vazio, um não-ser. A criatura hoje existente não era, foi tirada do nada; a sua fonte e razão de ser estão fora dela. Por isto, ela pode, tende mesmo, a recair no não-ser de onde procede. Traz em si um princípio de deficiência; é boa, viva, justa, bela até certo grau apenas. Não se identifica com a Bondade, a Vida, a Justiça, a Beleza… Por conseguinte, uma criatura por si mesma (abstração feita de prerrogativa concedida pelo Criador) indeficiente ou infalível é contradição.

Eis brevemente o que se refere à existência do mal. Passemos agora à questão:

2. De onde vem o mal?


Até aqui consideramos o mal no plano abstrato da especulação. Procuremos ver como entrou na realidade concreta, histórica.

1) Deus, em seu desígnio eterno, quis difundir o seu Ser, a sua Bondade, pois, segundo um axioma já formulado pelos neoplatônicos (séc. III d.C.), o Bem é essencialmente difusivo de si. Para isto, decretou tirar do nada criaturas que em grau finito exprimissem, cada qual do seu modo, a infinita Perfeição Divina.

2) Criou, pois, os minerais, os vegetais e os animais irracionais. Destinados a dar glória ao Criador, eles são movidos, não se movem propriamente, em demanda do seu Fim; não têm a capacidade de reconhecer a Deus e de optar conscientemente por seu supremo Objetivo.

Acima dessas criaturas na escala dos seres, e justamente destinado a movê-las (suprindo o que lhes falta), acha-se o homem. Este é dotado de conhecimento intelectivo e da liberdade de arbítrio daí decorrente. Deus chamou-o também a dar glória ao Criador, mas de maneira consciente e espontânea.

A produção de uma criatura livre representava (em linguagem humana) certo “perigo” ou “risco” para o Criador. Não há dúvida, ser livre é grande perfeição, maior do que ser autômato; e foi esta perfeição que Deus visou ao conceber o homem. Todavia, a liberdade de arbítrio criada, justamente por ser criada, é falível, capaz de fraquejar na sua opção; representa, pois, uma arma de dois gumes…

3) Consoante o seu plano, o Criador, depois de ter feito o homem, colocou-o diante da opção: Deus ou a criatura (em última análise, o próprio Eu humano). Nesta consulta atuou-se a possibilidade menos feliz…: o homem quis ser como Deus, rejeitando o Exemplar Divino.

Os povos mais antigos costumam professar, sob forma de narrativas graciosas, a consciência de que nas origens da História se deu uma desobediência grave dos homens contra o Soberano Senhor, de onde resultaram os males crônicos que nos cercam (cf. Estêvão Bettencourt, “Ciência e Fé na História dos Primórdios”, 3ª ed., Agir, 1958, pp.178-181).

A Bíblia refere a mesma verdade no episódio do pecado de Adão e Eva (Gênesis 3): o homem livre cometeu uma ação (cujos pormenores não se podem precisar), à qual faltava a conformidade com o Modelo ou com a Palavra de Deus — o que era um mal moral, um pecado; e acrescenta que desse mal moral decorrem, à guisa de sanção lógica, os males físicos (doenças, misérias, morte); a desordem material foi, pois, acarretada pela desordem espiritual. De onde:

LIBERDADE DE ARBÍTRIO — MAL MORAL,
PECADO — MAL FÍSICO (SOFRIMENTO E MORTE).

Por conseguinte, o princípio de toda desgraça vem a ser a livre vontade do homem que, sem deixar de querer o bem, preferiu, por sua falibilidade natural, o bem aparente ao Bem Real. O primeiro de todos os males vem a ser o mal moral ou pecado; de onde se segue que pior é cometer a injustiça (mal moral) do que a padecer (mal físico).

Hoje em dia os homens sofrem e morrem porque o primeiro pai pecou (afastou-se da Felicidade e da Vida, que é Deus) e transmitiu a seus descendentes uma natureza desregrada, além do mais colocada num mundo em que os seres inferiores não servem sempre ao homem (como o primeiro homem não serviu a Deus). Nem todo sofrimento é consequência de um pecado pessoal, mas reduz-se, em última análise, à desobediência de Adão.

4) E porque Deus não impediu que Adão pecasse?

O Senhor deu ao primeiro pai os meios suficientes para não pecar; não quis, porém, intervir na vontade do homem, forçando-a a escolher o Bem Real, pois isto equivaleria a retirar ou mutilar um dom outorgado em vista de maior dignidade e glória do gênero humano.

Deus é Pai, não ditador, e quer ser considerado como Pai. Ora, na parábola que Jesus narra em Lucas 15,11-32, o pai deixa partir o filho que lhe pede a herança para ir gozar da vida; embora anteveja os desmandos que o jovem está para cometer, deixa-o ir, justamente porque é pai, não tirano, e quer usar de confiança ao tratar o seu filho; espera ao menos que este, fazendo as suas experiências livremente empreendidas, reconheça mais livre e conscientemente a felicidade que há em aderir ao Pai. Assim, Deus deixou (e deixa) o homem partir pela via do pecado, segundo a sua livre opção, pois o que Deus quer é o amor filial do homem, não a adesão inconsciente de uma máquina.

5) E porque Deus, sabedor dos pecados de Adão e dos seus descendentes, não fez, nem faz, somente indivíduos fiéis ao Fim Supremo?

O Senhor certamente poderia proceder assim; só haveria criaturas boas, sem que o Criador tivesse que coagir alguma. Fazendo isso, porém, Ele desfiguraria, mutilaria o conceito de livre arbítrio. Este implica duas possibilidades opostas uma à outra: o “Sim” e o “Não”. Mais precisamente, em se tratando dos homens: implica o “Sim” ao Criador (o que é o Sumo Bem) ou o “Não” ao Criador (o que é o Sumo Mal). Por conseguinte, é normal, decorrente do conceito mesmo de criatura, e criatura livre, que no conjunto da História parte dos homens diga “Sim” a Deus, optando pelo Bem Real, e outra parte diga “Não”, falhe, escolhendo o bem apenas aparente ou o mal; não se poderia esperar, outro resultado, a menos de um retoque artificioso, pelo qual Deus solaparia a ideia de livre arbítrio; uma história do gênero humano em que todos só escolhessem o bem não representaria mais a natureza da criatura livre, o exercício da liberdade com todas as suas riquezas e sutilezas (a experiência ensina que, onde muitos têm a possibilidade de fazer alguma coisa, alguns realmente a fazem; num veículo, por exemplo, onde quarenta pessoas tenham a possibilidade de fumar, uma porcentagem de fato fuma; o resultado contrário seria estranho, não corresponderia à ideia de liberdade de que goza cada qual dos passageiros).

6) Mas então Deus não será de algum modo culpado do pecado que o homem comete?

Não; a culpa do pecado não recai sobre Deus. Vejamos bem: em todo ato mau (pecaminoso) há sempre uma entidade positiva, boa, pois todo ato é afirmação de perfeições (só o ser imperfeito não age ou age pouco); esse valor positivo se deve, sem dúvida, ao Criador, pois não há entidade que não se derive de Deus. O mal sobrevém a essa entidade ou a esse bem, como sabemos, pois o pecado nada mais é do que um ato (um valor) que carece de algo… que carece de conformidade com o seu Exemplar, com o Sumo Bem (=Deus). Ora essa carência ou lacuna não se deriva, nem pode derivar, de Deus (porque é um vazio); deve-se unicamente à criatura que, oriunda do não-ser, traz a tendência ao não-ser, a tornar o ser lacunoso. A título de ilustração, admitamos que um músico se ponha a tocar com uma flauta desafinada; empregará toda a sua arte para produzir a mais bela das melodias com tal instrumento; o resultado porém, não poderá deixar de ser desarmonioso, não por defeito musical do artista, mas em virtude da “má disposição” do instrumento. Assim Deus, tendo criado o homem livre e aplicando-lhe a moção suficiente para o bem, não o fará produzir um ato bom, se o homem não estiver bem disposto (o que depende de sua vontade livre) a receber a boa dádiva do Senhor.

Como se vê, o mal, em última análise, se assenta sobre o mistério da liberdade humana, que pode escolher o erro sob a aparência de bem. É verdade que Deus quis criar essa liberdade sem desconhecer o “risco” que isso acarretava; Ele o quis, porém, unicamente em vista de um bem maior…

E Deus sabia que esse bem maior jamais seria frustrado, mesmo que a liberdade humana falhasse. Nesta hipótese, o pecador se tornaria, sem dúvida, infeliz por causa do seu próprio pecado, mas Deus ainda assim seria proclamado e glorificado por ele, pois em última análise, se o pecador sofre pelo pecado, sofre porque a sua natureza feita para Deus protesta contra a violentação, a detorsão que a livre vontade do indivíduo lhe impôs. Esse sofrimento vem a ser a afirmação solene de que Deus é o Sumo Bem; ora, desde que a criatura o afirme, mesmo que esteja infeliz, ela tem pleno sentido no conjunto dos seres criados, pois o centro em vista do qual tudo foi feito e ao qual tudo se destina, recebendo dele seu significado autêntico, é Deus, não o homem.

7) A última palavra, porém, em se tratando do mal, é dita pela Redenção e pelo Cristo crucificado. Esta figura projeta luz que penetra todos os aspectos do problema, mesmo os mais misteriosos.

Sim; Deus não quis ficar indiferente à desgraça do homem. Voltaire dizia a Júpiter que, ao criar-nos, tinha feito “une froide plaisanterie”, um frio gracejo. Quanto isto é errado!

Deus levou muito a sério o drama do homem. Embora não precisasse da criatura, quis salvar o gênero humano. Em vista disto, tomou a miserável carne humana fazendo-Se “Filho do Homem”, Jesus Cristo, e padeceu a nossa sorte, morrendo. Cristo, porém, não ficou na morte; atravessou-a, venceu-a ressuscitando. Com isto, comunicou sentido novo e inestimável valor aos nossos padecimentos; se aquilo que Deus toca não pode deixar de ser divinizado, a dor e a morte foram divinizadas depois que Cristo as experimentou; deixaram de ser mera sanção, a fim de tornar-se canal, passagem para nova vida, para a glória eterna. Hoje em dia a justiça cumpre-se no cristão quando este sofre e morre em consequência do pecado; mas não é a justiça que enfecha a história do homem; é o amor de Deus. Pelos seus padecimentos e morte aceitos em união com o Redentor, o cristão desdiz ao egoísmo, identifica-se com a Justiça do Senhor, tornando-se apto a participar da efusão do amor do Pai Celeste.

Para o homem fiel só há uma desgraça autêntica: a perda da união com Cristo ou o pecado, pois, enquanto está unido a Deus, o cristão vence com proveito ou mérito os maiores sofrimentos (doença, pobreza, perseguições e morte).

Em conclusão: o Cristo pregado à Cruz vem a ser o testemunho mais eloquente de que a existência do mal, como a conhecemos, não é incompatível com a existência de Deus; para quem considera o Filho de Deus crucificado, torna-se vã qualquer tentação de acusar de injustiça ou maldade o Criador pelo fato de que Este permite o sofrimento livremente acarretado pelo homem sobre si mesmo. “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos”, dizia Jesus (João 15,13). Fora, porém, da perspectiva da Cruz de Cristo, o mal constitui problema insolúvel, como atesta Voltaire:

– “A felicidade é apenas um sonho, e a dor é a realidade. Há vinte e quatro anos que o experimento. Não sei tomar outra atitude senão a de me resignar e dizer que, assim como as moscas nasceram para ser consumidas pelas aranhas, assim também os homens nasceram para ser devorados pelo sofrimento”.

Ó homem, não queiras sofrer a tal ponto! Lembra-te de Deus,… de Deus que se revelou em Cristo, e…

Alegra-te!

(Pode-se consultar, a respeito, Pe. Siwek, “O Problema do Mal”. Rio de Janeiro, 1942, na “Biblioteca Francesa de Filosofia” de Desclée de Brouwer).

Fonte: Revista Pergunte e Responderemos nº 5:1957 – set/1957

quarta-feira, agosto 10, 2016

Se Jesus é Deus, por que diz: “O Pai é maior do que eu”?

Como entender essa frase dita por Cristo durante o Seu testamento na Última Ceia?


Os católicos ouviram (...) a seguinte frase: "Vou para o Pai, pois o Pai é maior do que eu" (Jo 14, 28).

Um de nossos internautas nos pergunta como coadunar essa afirmação de Nosso Senhor com o Símbolo de Niceia, em que confessamos "um só Senhor, Jesus Cristo, Filho Unigênito de Deus, nascido do Pai antes de todos os séculos, Deus de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado, não criado, consubstancial ao Pai" [1]. Afinal, Jesus não é Deus? Por que diz, então, que o Pai é maior do que Ele?

Esta pergunta pode parecer pouco relevante para os homens de nosso século, mas não o era para Santo Atanásio de Alexandria, cuja memória a Igreja celebra no dia de hoje. Esse santo promoveu com tal valentia a verdade sobre a Pessoa de Cristo, que mereceu ser honrado pelos cristãos de todos os tempos e lugares como Doctor Incarnationis ("Doutor da Encarnação"). Para defender Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, contra os hereges arianos, Atanásio resistiu ao "mundo inteiro" de sua época, enfrentando por causa de sua fé católica o exílio e a perseguição.

Para responder a dúvida de nosso internauta, vamos recorrer à brilhante explicação de Santo Tomás de Aquino:

"A partir desta passagem Ário insultou a fé dizendo ser o Pai maior do que o Filho, erro que é refutado, todavia, pelas próprias palavras do Senhor. A afirmação 'o Pai é maior do que eu' só pode ser entendida, de fato, a partir do que Ele disse antes: 'vou para o Pai' . Ora, o Filho não vai ao Pai nem vem a nós enquanto Filho de Deus, porque, como tal, sempre existiu com o Pai desde toda a eternidade: 'No princípio era o Verbo, e o Verbo estava junto de Deus' (Jo 1, 1). Assim, Ele só pode dizer que vai para o Pai segundo a Sua natureza humana. Quando Ele declara, portanto, 'o Pai é maior do que eu', não o diz enquanto Filho de Deus, mas enquanto filho do homem, segundo o qual não só é menor que o Pai e o Espírito Santo, mas que os próprios anjos: 'Jesus, a quem Deus tornou pouco inferior aos anjos, nós o vemos coroado de glória e honra, por ter sofrido a morte' (Hb 2, 9). Do mesmo modo Ele estava sujeito também aos homens, sabidamente aos Seus pais, como se lê em Lc 2, 51. Assim, portanto, Ele é menor que o Pai segundo a humanidade, mas igual a Ele segundo a divindade: 'Ele, existindo em forma divina, não se apegou ao ser igual a Deus, mas despojou-se, assumindo a forma de escravo' (Fl 2, 6-7)."

"É possível dizer ainda, com Santo Hilário, que também segundo a divindade o Pai é maior que o Filho, ainda que o Filho lhe seja igual, não menor [2]. Porque o Pai é maior do que o Filho não em potestade, eternidade ou magnitude, mas em autoridade de doador ou de princípio. Porque o Pai nada recebeu de outro, mas o Filho, como se disse, recebeu do Pai a natureza por uma geração eterna. O Pai é maior, portanto, porque dá; e o Filho não é menor, mas igual, porque tudo o que o Pai possui, Ele também o recebeu: 'Deu-lhe o nome que está acima de todo nome' (Fl 2, 9)." [3]

As colocações do Doutor Angélico são bem claras, mas, se você ainda ficou um pouco confuso, não deixe de conferir o nosso curso "Por que não sou protestante", durante o qual Padre Paulo desenvolve algumas importantes noções de Cristologia, que certamente esclarecerão as suas dúvidas.

Clique aqui para acessar as aulas do nosso curso exclusivo "Por que não sou protestante".

Por fim, cabe fazer um último adendo, a respeito da interpretação correta das Escrituras, de acordo com o Magistério da Igreja. É o próprio São Pedro quem afirma que existem "algumas coisas difíceis" na Bíblia, trechos que são deformados por "homens sem instrução e vacilantes", "para a sua própria perdição" (2 Pd 3, 16). Nos primeiros tempos da Igreja, Ário usou o versículo acima, do Evangelho de São João, para dizer que Jesus não passava de uma "criatura do Pai", que Ele não era Deus. Hoje, muitos de nós corremos risco semelhante: o de interpretar as Escrituras para confirmar os nossos próprios gostos ou opiniões.

Para não corrermos esse risco, basta que nos mantenhamos fiéis ao que a Igreja sempre ensinou pela boca de seus santos e doutores. Quando ficarmos em dúvida a respeito de algum trecho da Bíblia, não caiamos na presunção de interpretar aquela passagem por nós mesmos, como se os livros sagrados fossem "de interpretação pessoal" (2 Pd 1, 20). Sejamos humildes e procuremos a autoridade da Igreja, de um Santo Agostinho, de um São Jerônimo, de um Santo Tomás de Aquino… Na doutrina desses homens sábios temos um terreno sólido em que construir a casa da nossa fé.

Que Santo Atanásio nos ajude a conservar o Credo Apostólico íntegro e puro, tal como ele mesmo o guardou.
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Por Equipe Christo Nihil Praeponere
Referências
I Concílio de Nicéia, Símbolo niceno (19 de junho de 325): DH 125.
De Trin., 9, 54 (PL 10, 324B).
Comentário ao Evangelho de São João, XIV, 8, n. 1970-1971.

terça-feira, agosto 09, 2016

Os irmãos biológicos de Jesus ou interpretação errada?


DESMENTINDO O ARGUMENTO PROTESTANTE DE QUE MARIA TEVE VÁRIOS FILHOS

Por: Gilson Azevedo

Os protestantes pegaram um versículo como de costume, para mentir, deturpar e dizer que Maria teve mais de um filho, para dizer que Maria não foi virgem, para caluniar a Mãe de Nosso Senhor.

Neste estudo, vamos ver o sentido real e teológico da passagem de Mc 6, 3. Pra isso, vejamos primeiro a passagem: “Não é este o carpinteiro, filho de Maria, IRMÃO de TIAGO, de JOSÉ, de JUDAS e de SIMÃO? Não vivem aqui entre nós também suas IRMÃS?” (Mc 6, 3).

Neste versículo aparecem algumas perguntas, vejamos qual: Este homem não é o carpinteiro, filho de Maria e irmão de Tiago, de Joset, de Judas e de Simão? Suas irmãs não moram aqui conosco?' Este versículo é usado pelos protestantes para dizer que Maria teve vários filhos. Mais se buscarmos a interpretação de texto = compreensão, veremos que é tamanha cefalia dizer isso com apenas este versículo.

Quando surge a pegunta: Este homem não é o carpinteiro, filho de Maria e irmão de Tiago, de Joset, de Judas e de Simão? Nós vemos algo no singular e não no plural. Pois se estivesse no plural seria:

Este homem não é o carpinteiro, (um dos ) filhos de Maria e irmão de Tiago, de Joset, de Judas e de Simão?

Devemos com base nisso nos perguntar. Porque a pergunta não se refere a um dos filhos de Maria no plural indicando mais de um filho, e sim o filho de Maria no singular indicando uma pessoa?

Tem algo de errado ai. Mas você diria que em seguida é mencionado os nomes de Tiago, de Joset, de Judas e de Simão. Para entendermos isso, deve-se buscar a Santa Tradição.

Vejamos quem eram os doze apóstolos: No Evangelho de Mateus, vê-se: "estes são os nomes dos doze apóstolos: primeiro, Simão, chamado Pedro, e depois André, seu irmão; Tiago, filho de Zebedeu e seu irmão João; Filipe e Bartolomeu; Tomé e Mateus, o publicano; Tiago, filho de Alfeu, e Tadeu, Simão, o cananeu, e Judas Iscariotes, que foi o traidor de Jesus." (cf. 10, 2-4)

Percebemos aqui que "Tiago, irmão do Senhor", não é filho de José. Para entender isso vejamos o seguinte: "grande número de mulheres estava ali, observando de longe. Elas haviam acompanhado Jesus desde a Galiléia, prestando-lhe serviços. Entre elas estavam Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago e de José e a mãe dos filhos de Zebedeu." (Mt 27, 55-56)

Ja percebemos nesta passagem que tem uma Maria que é mãe de Tiago e que ela é mãe dos filhos de Zebedeu. Antes que alguém alegue que a Maria era a mãe de jesus e se separou de José para morar com Zebedeu, devemos saber que "junto à cruz de Jesus, estavam de pé sua mãe e a irmã de sua mãe, Maria de Cléofas, e Maria Madalena." (19, 25) O texto original não diz: Mulher de Cleofas, mas diz simplesmente: “a irmã de sua Mãe, Maria, a do Cleofas” (texto grego de Jo 19,25); podia chamar-se Maria, a do Cleofas, por causa do pai ou por outro motivo.

Na parte sublinhada, percebemos que ela era irmã de Maria mãe de jesus e não a Santíssima e Virgem Maria nossa Mãe.

No evangelho de Mateus vemos também: Enquanto Jesus estava falando às multidões, sua mãe e seus irmãos ficaram do lado de fora, procurando falar com ele. Alguém lhe disse: “Olha! Tua mãe e teus irmãos estão lá fora e querem falar contigo”. Ele respondeu àquele que lhe falou: “Quem é minha mãe, e quem são meus irmãos?” E, estendendo a mão para os discípulos, acrescentou: “Eis minha mãe e meus irmãos. Pois todo aquele que faz a vontade do meu Pai, que está nos céus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe”. Mt 12,46-50 

Como vemos, os que fazem a vontade de Deus são irmão de Jesus, porém Ele não se refere a nós no sentido biológico, somos apenas irmãos espirituais assim como Maria é a Nossa Mãe espiritual.

Voltando paro o termo irmãos de Jesus, sabemos que o Tiago descrito na passagem, diz na sua Carta, e deixa claro que NÃO é irmão de Jesus, mas servo: “Tiago, servo de Deus e do Senhor Jesus Cristo…” (Tg 1,1).

PARTINDO DO PONTO TRADIÇÃO VEMOS:

É importante dizer que nas Sagradas Letras, as palavras "irmão", "irmã", "irmãos" e "irmãs" podem denotar qualquer grau de parentesco. Isto porque, as línguas hebraica e aramaica não possuem palavras que traduzem o nosso "primo" ou "prima", e serve-se da palavra "irmão" ou "irmã". A palavra hebraica "ha", e a aramaica "aha", são empregadas para designar irmãos e irmã do mesmo pai, e não da mesma mãe (Gn 37, 16; 42,15; 43,5; 12,8-14; 39-15), sobrinhos, primos irmãos (1 Par 23,21), primos segundos (Lv 10,4) e até parentes em geral (Jó 19,13-14; 42,11). Existem muitos exemplos na Sagrada Escritura. [1]

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Devemos sabe que A palavra "Irmãos"... aparece mais de 530 vezes na bíblia. IRMÃO: aparece mais de 350 vezes. IRMÃ: aparece mais de 100. IRMÃS: aparece 15 vezes.

Já sabemos que naquela epoca não se usava o termo primo, a palavra Irmão tanto no Hebraico como no Grego Kôine, pode ser empregado para irmão biológico, primo, tio, sobrinho, conterrâneos, compatriotas e discípulos. Santo Agostinho com toda sua sabedoria no descreve:

“O hábito de nossa Escritura Santa, com efeito, é de não restringir esse nome de ‘irmãos’ unicamente aos filhos nascidos do homem e da mesma mulher; Nem àqueles que nascem de uma só e mesma mulher, ou só do mesmo pai, ainda que nascidos de mães diferentes. Nem mesmo restringir o nome de irmãos a primos de primeiro grau, como são os filhos de dois irmãos ou de duas irmãs. Não são esses unicamente, os que a Escritura costuma chamar de irmão.Santo Agostinho de Hipona, doutor da Igreja que viveu no século IV

Voltando para o começo do texto, quando o autor da pergunta põe sua interrogação ele não esta dizendo que eles eram irmãos biológico de Jesus como já vemos anteriormente, mais para compreender melhor melhor vamos usar a passagem de João 20,17-18.

Jesus Cristo, em João 20,17, diz a Maria Madalena: "Não Me retenhas, porque ainda não subi ao Meu Pai, mas vai aos Meus IRMÃOS e dize-lhes: Subo para Meu Pai e vosso Pai, Meu Deus e vosso Deus." Jo 20, 17 - Agora no próximo versículo, a quem ela se dirigiu? João 20,18: Maria Madalena correu para anunciar aos DISCÍPULOS que ela tinha visto o Senhor e contou-lhe o que Ele tinha falado. FICA CLARO QUE JESUS AO SE REFERIR NO TERMO "IRMÃOS", ELE QUERIA DIZER SEUS DISCÍPULOS, E NÃO IRMÃOS DE SANGUE. 

Do mesmo modo, Jesus usou amplamente estes mesmos termos, quando, já ressuscitado, chamou os seus discípulos de meus irmãos (Mt 28,10: Vai dizer a meus irmãos que eles devem ir a Galiléia, onde me verão).

Outro ponto a ser visto, é se buscarmos o AT e comparar com NT...

VEJAM ALGUNS VERSÍCULOS SOBRE FILHOS NO NT:

E depois do nascimento de Enos, viveu ainda oitocentos e sete anos e gerou filhos e filhas.” (Gn, 5) Enos teve mais de um filho isso é bem claro na passagem.

Joás tinha sete anos quando começou a reinar. Seu reinado, em Jerusalém, durou quarenta anos. Sua mãe chamavase Sébia; era ela de Bersabéia. 2. Joás fez o bem aos olhos do Senhor durante toda a vida do sacerdote Jojada, 3. o qual lhe deu por esposas duas mulheres, das quais teve filhos e filhas.” (II Crônicas capítulo 24) Joás teve mais de um filho isso é bem claro na passagem.

Agora fica a pergunta: por que nos versículos que falam de Maria não diz que ela teve além Jesus outros filhos e viveu tantos anos???

Sabemos que aos 12 Anos, não há Indícios de Irmãos na Festa da Páscoa. Quando Jesus foi a festa da Páscoa em Jerusalém, com a idade de 12 anos (Lc 2,41-51), não se menciona a existência de outros filhos, embora toda a família tivesse peregrinado junto durante uns 15 dias. Ora, Maria e José não poderiam ter deixado em casa, por tanto tempo, filhos tão pequenos.

Vejamos alguns testemunhos da Sagrada Tradição

A Sagrada Tradição da Igreja sempre ensinou a Virgindade perpétua da mãe de Nosso Senhor. Eis alguns testemunhos dos primórdios do cristianismo:

Santo Inácio de Antioquia ( Século I ): "E permaneceram ocultos ao príncipe desse mundo a virgindade de Maria e seu parto, bem como a morte do Senhor: três mistérios de clamor, realizados no silêncio de Deus" (Carta aos Efésios, PG. V, 644 ss.)
Santo Irineu (130 a 203 dC): "Era justo e necessário que Adão fosse restaurado em Cristo, e que Eva fosse restaurada em Maria, a fim de que uma virgem feita advogada de uma virgem, apagasse e abolisse por sua obediência virginal a desobediência de uma virgem". (Contra as Heresias) 
Santo Atanásio (295 a 386 dC): "Jesus tomou carne da SEMPRE virgem Maria".Dídimo (386 dC): "Nada fez Maria, que é honrada e louvada acima de todas as outras: não se relacionou com ninguém, nem jamais foi Mãe de qualquer outro filho; mas, mesmo após o nascimento do seu filho [único], ela permaneceu sempre e para sempre uma virgem imaculada". ("A Trindade 3,4") 
São Jerônimo (340-420 dC): "Cristo virgem e Maria virgem consagraram os princípios da virgindade em ambos os sexos".
Santo Agostinho (354 a 430 dC): "Então, o Senhor tem irmãos? Será que Maria teve ainda outros filhos? Não! De modo algum! (...) Qual é, pois, a razão de ser da expressão "irmãos do Senhor"? Irmãos do Senhor eram os parentes de Maria". (Comentário do Evangelho de São João, X, 2)
Santo Agostinho: "Concebeu-O [a Cristo Jesus] sem concupiscência, uma Virgem; como Virgem deu-lhe à luz, Virgem permaneceu". (Sermão sobre a Ressurreição de Cristo, segundo São Marcos, PL XXXVIII, 1104-1107)[2]


O protestantismo também se usa do termo PRIMOGÊNITO para afirmar que Maria teve mais de um filho. Lc 2,7: "Maria deu à luz o seu filho primogênito". Mais o que vem a ser um primogênito? 

Literalmente, "primogênito" é o primeiro filho, independente de haver ou não um segundo filho. Em hebrico "bekor" (primogênito) podia designar simplesmente "o bem-amado", pois o primogênito é certamente aquele dos filhos no qual durante certo tempo se concentra todo o amor dos pais. Além disto, os hebreus julgavam o primogênito como alvo de especial amor de Deus, pois devia ser consagrado ao Senhor (Lc 2,22; Ex 13,2; 34,19).

Numa inscrição sepulcral judaica datada de 5 AC e descoberta em Tell-el-Yedouhieh (Egito), em 1922, lê-se que uma jovem chamada Arsinoé MORREU "nas dores do parto do seu filho primogênito". Ora, se ela morreu, então não teve outros filhos além do filho dito "primogênito".

`Podemos também analisar o termo da seguinte forma: Se o primogênito fosse restrito àqueles que possuem irmãos, ninguém estaria sujeito a lei da primogenitura, enquanto não nascesse seu irmão. Mas visto que, o primeiro filho (que ainda não tem irmãos mais novos), poucos dias depois de nascer já é sujeito à lei da primogênitura, deduzimos que é chamado primogênito aquele que abre o útero da mãe e que não foi precedido por ninguém, e não aquele cujo nascimento foi seguido por outro de irmão mais novo.

OUTRO PONTO A SER VISTO

É comum nas pregações protestante ouvirmos a expressão IRMÃOS o tempo todo, nem da pra contar ou fazer o calculo do quanto eles repetem isso.

Agora por que usar essa palavra (irmão) se para eles significa irmãos biológico?

Como podemos ver, isso ninguém que seja protestante sabe responder, pois o protestantismo é um poço de mentiras e contradições. 

Conclusão

Fica claro, que Jesus não teve um irmão ou dois, Ele teve muitos e tem, e esses irmãos somos nós filhos de Deus. Como Ele mesmo deixa claro: "Pois todo aquele que faz a vontade do meu Pai, que está nos céus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe”. Mt 12,46-50

É portanto calunioso afirmar que Maria não foi virgem, é calunioso afirmar que Maria manteve relações com José, alguns diriam que manteve pelo simples fato de ser homem e ser algo que suscita na carne o desejo, mais porem vejamos os religiosos e, busquemos no AT pessoas que se "castraram" ao serviço de Deus, e portanto relembro as palavras de São João Paulo II em sua catequese:" De resto, o Espírito Santo, que tinha inspirado Maria à escolha da virgindade em vista do mistério da Encarnação, e queria que esta acontecesse num contexto familiar idôneo ao crescimento do Menino, pôde suscitar também em José o ideal da virgindade." (João Paulo II - Catequese - 17 a 24/08/1996)

Santo agostinho nos fala: Assim, consagrou sua virgindade a Deus, enquanto ainda ignorava de quem havia sido chamada a ser mãe. Desse modo, ela ensinava, às outras, a possibilidade de imitação da vida do céu, em um corpo terrestre e mortal, em virtude de um voto e não de um preceito, e realizando-o por opção toda de amor, não por necessidade de obedecer. Cristo, assim, nascendo de uma virgem que, antes mesmo de saber de quem seria mãe, já tinha resolvido permanecer virgem, esse Cristo preferiu aprovar a santa virgindade a impô-la. Dessa maneira, mesmo na mulher da qual haveria de receber a forma de servo, ele quis que a virgindade fosse o efeito da vontade livre." (A Santa Virgindade - Santo Agostinho)

É importante perceber que Jesus Cristo ao estar na Cruz, entrega sua Mãe aos cuidados de João. “26. Quando Jesus viu sua mãe e perto dela o discípulo que amava, disse à sua mãe: Mulher, eis aí teu filho. Depois disse ao discípulo: Eis aí tua mãe. E dessa hora em diante o discípulo a levou para a sua casa.” (Jo 19, 26-27) Vejamos bem, se Jesus teve outros irmão como afirmam os protestante, porque ele não deixou Maria nos cuidados destes irmãos?

Um protestante lendo este texto diria: Os irmãos de Jesus Cristo eram incrédulos, por isso ele deixou-a sobre os cuidados de João.

Se Jesus não teve irmãos que eram este incrédulos. Sabemos que um deles era o Apostolo Tiago, e mesmo que ele fosse um irmão biológico de Jesus, Ele teria que deixa-la aos cuidados desses seus irmãos biológico, pois a não crença desses supostos irmãos em Jesus Cristo não quer dizer que eles não seguiam a Lei Mosaica, vivemos em mundo onde muitos acreditam em Deus, mais não acreditam que Jesus Cristo existiu, exemplo do islamismo que não acreditam em Jesus Cristo como o filho de Deus, mais como um profeta qualquer, e veneram à Maomé como se ele fosse algum tipo de messias ou até mesmo um deus. 

Temos também o exemplo dos Judeus, pois vários Judeus não acreditaram em Jesus Cristo, e sabemos que eles respeitavam as Leis de Moises, e como sabemos nesta leia esta escrito, (Honrar Pai e Mãe). Bom com isso determinamos que estes irmãos biológicos não existiram, pois mesmo sendo incrédulos jamais eles deixariam de honrar sua mãe por não acreditarem em Jesus Cristo como o Messias.

E que assim caiam os argumento de hereges que acusam a Ecclesia et Christi.

Paz e bem!
_________________

[1] Fonte: Veritatis http://www.veritatis.com.br/apologetica/maria-santissima/547-quem-sao-os-irmaos-de-jesus

[2] Fonte: Veritatis http://www.veritatis.com.br

Por: Gilson Azevedo
© Livre para copia e difusão na integra e com menção do autor